A avaliação sensorial de cosméticos é uma importante ferramenta de inovação, pois permite avaliar a aceitabilidade dos produtos no mercado e desenvolver produtos adaptados às necessidades e desejos dos consumidores. 

A percepção da qualidade do produto cosmético e sua superioridade sobre outros da mesma natureza, depende das suas características sensoriais, segurança e eficácia. Testes clínicos e/ou instrumentais são utilizados para medir  a segurança e eficácia enquanto que a avaliação sensorial de cosméticos permite descrever o produto e avaliar seu valor hedônico e emocional. 

Os cosméticos são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado (BRASIL, 2022). 

Sendo assim os produtos cosméticos abrangem uma ampla gama de produtos classificados normalmente pela área de aplicação no corpo, conforme ilustra a figura abaixo:

Quando os consumidores interagem com o produto cosmético, o processo de percepção sensorial pode, de maneira simplificada, ser dividido em duas etapas:

Etapa 1 – Consumidores percebem através de seu sistema sensorial os atributos dos produtos como cor, cheiro e textura.

Etapa 2 – A informação é integrada para gerar a percepção que pode dar ao produto um valor simbólico.

Por exemplo, a aparência do creme em gel simboliza frescor e leveza dos produtos durante o uso, enquanto um creme de aspecto  “denso” simboliza efeitos de hidratação. Os consumidores também associam a “textura visual” com o uso noturno ou diurno dependendo da estação do ano.

As características sensoriais são percebidas ao primeiro contato com o produto, no entanto a avaliação sensorial de cosméticos pode também ser desenvolvida ao longo do tempo e interagir com a eficácia percebida. Se durante o estudo clínico ou durante o uso pelo consumidor, a qualidade do produto trouxer satisfação, assim como um sentimento de conforto, então o usuário terá uma percepção mais favorável da eficácia percebida (Pensé-Lhéritier; Bacle; Delarue, 2021)

A avaliação sensorial de cosméticos é, portanto, o primeiro passo para a aceitabilidade ou rejeição dos produtos. E as empresas têm como alvo  desenvolver produtos de mercado que se destacam pelas suas propriedades sensoriais ao despertar emoções positivas em seus consumidores. 

A avaliação sensorial de cosméticos segue diferentes abordagens metodológicas dependendo de onde está o foco: no consumidor ou no produto. 

 

Foco no consumidor: Quando queremos saber a aceitação e/ou preferências dos produtos cosméticos, neste caso a avaliação é feita com avaliadores não treinados representantes do público-alvo. 

Foco no produto: Ocorre normalmente quando queremos discriminar ou categorizar propriedades sensoriais do produto, neste caso a avaliação é feita com painel treinado, os quais são divididos por categorias: cuidados da pele, maquiagem, cuidados de cabelo, etc.

Os métodos que são amplamente utilizados na indústria de alimentos foram adaptados para avaliação de produtos cosméticos. Essas adaptações incluem:

  1. A aplicação de produtos em áreas como cabelo e pele (normalmente face, braços ou cabeça), a padronização do gestual e quantidade a ser utilizada na aplicação;
  2. O ambiente de avaliação com cabines equipadas com iluminação frontal, espelhos, pias, box com chuveiros e/ou outra condição necessária para a realização da aplicação);
  3. As etapas de avaliação (durante ou após a aplicação do produto). 

Os critérios para inclusão e exclusão dos avaliadores também precisam respeitar regras estritas para garantir a proteção à saúde humana. Seguindo o guia ético para teste com cosméticos, as gestantes, lactantes e crianças são excluídas do painel de teste.

Os critérios de inclusão comumente utilizados são: idade, faixa etária, características étnicas específicas da pele, tipo de pele e/ou cabelos. Os critérios de exclusão devem ser previamente detalhados e pode estar associado a alergias e irritações na pele.

Seguindo os padrões regulatórios, todos os produtos cosméticos, no seu desenvolvimento ou comercialização, são submetidos a avaliação microbiológica e toxicológica para garantir a segurança da avaliação sensorial e garantir que os produtos possam ser aplicados com segurança na pele dos avaliadores.

Várias amostras podem ser avaliadas de forma comparativa e simultânea (ex. meia cabeça ou meia face) ou uma após a outra (monádica sequencial), seguindo a uma sequência randomizada e balanceada, com a apresentação das amostras codificadas.

A quantidade de amostras apresentadas para avaliação é ajustada em peso ou volume dependendo da forma do produto (ex. espuma deve ser medida em mg, uma emulsão em mL). 

Embora a quantidade deva ser padronizada, é preciso atentar para as diferenças das características pessoais dos avaliadores. Por exemplo, no caso de shampoo (ou produtos para cabelo), maior quantidade de shampoo pode ser usada para painelistas com cabelos mais longos. Essa quantidade deve ser a mesma para os outros shampoos a serem comparados.

Na avaliação sensorial de cosméticos é muito importante manter constante a temperatura dos produtos durante todo o ano. É preciso garantir que caso o produto aqueça na pele, isso não seja  devido ao aumento da temperatura da sala mas realmente devido a aplicação do produto.

A temperatura da água também deve ser controlada para ser morna o suficiente e constante durante todo o ano, de forma a garantir o conforto dos avaliadores. O poder espumante e a capacidade de enxágue também dependem da temperatura e da dureza da água. Esses parâmetros devem ser controlados na avaliação sensorial de produtos como: sabonetes, shampoos, e géis de enxágue.

Todos esses parâmetros (iluminação, temperatura, umidade da sala, temperatura, dureza da água) são registrados durante a sessão e descritos no relatório da sessão de avaliação.

A escolha do método sensorial depende do objetivo do estudo, o qual determina o número de avaliadores e o seu perfil (treinado, especialistas, não-treinado), o número de produtos e sua utilização, o número de atributos  e a duração do estudo. 

Na avaliação sensorial de cosméticos, o número de produtos testados durante uma sessão é limitado devido às áreas de aplicação e a descrição das diferentes sensações dependendo das áreas da pele.

Mais frequentemente, eles são comparados aos pares nas partes do corpo para que seja possível a aplicação dos produtos simultaneamente (dois produtos ao mesmo tempo, lados simétricos: duas bochechas, duas mãos, dois olhos, metades da cabeça, etc..) e de uma forma sequencial (aplicação de um produto e depois o outro). 

Devido a diversidade de produtos cosméticos, a variedades das suas funções, formulações e áreas de aplicação, a avaliação sensorial de cosméticos representa um grande desafio. 

Agende um horário e venha conversar conosco sobre os desafios da avaliação sensorial de cosméticos. Conhecer a percepção dos consumidores, permite aos fabricantes prever a aceitabilidade dos produtos no mercado e atuar no desenvolvimento de produtos de forma a otimizar o valor percebido pelos consumidores.

Por Dra. Elaine Berges

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REFERÊNCIAS: 

Brasil. RDC. 752/2022 – Disponível em: 66ee0d82-4641-441b-b807-109106495027 (anvisa.gov.br)

Pensé-Lhéritier; Bacle; Delarue, 2021. Non-food sensory practices. Disponível em: Nonfood Sensory Practices | ScienceDirect