O termo utilizado para designar a avaliação sensorial de produtos não alimentícios está ligado a qualquer produto que não se destine a ser ingerido por humanos como fonte de alimentação ou bebida (Delaure, 2021).
Desde a década de 90 a Ciência Sensorial e do Consumidor, aplicada usualmente em alimentos e bebidas, se expandiu para outros segmentos como: cosméticos, medicamentos, mobiliário, têxteis, produtos de perfumaria, higiene pessoal e doméstica, embalagens, “pet foods” e bens de consumo como: carros, telefones, artigos esportivos, eletrodomésticos, cigarros entre outros.
Na avaliação sensorial de produtos não alimentícios todos os sentidos podem estar envolvidos, inclusive o paladar. Como acontece no uso de produtos como batons, creme dental, enxaguatórios, nos quais, embora não ocorra a ingestão, o contato com a boca também fornece informações sensoriais importantes sobre o produto.
Embora todos os sentidos possam ser utilizados na avaliação sensorial de produtos não alimentícios, a prevalência de um sentido ou outro pode ocorrer dependendo da proximidade do produto (ou objeto) com o consumidor (ou seus sentidos) e são classificadas conforme segue (Delarue, 2021):
- Social ou público: quando o consumidor está mais distante do produto e o contato com produto ocorre pela visão ou audição;
- Pessoal: quando o consumidor está mais próximo do produto e o contato ocorre também pelo olfato;
- Íntima: quando o consumidor está tão próximo que pode tocar ou degustar o produto.
Essas informações sensoriais do ambiente externo são muito importantes na avaliação que o consumidor faz do produto.
Por exemplo, no setor automotivo, o som é um elemento chave para a compreensão do comportamento do veículo ou do motorista, o “ronco” do motor que para alguns pode chegar a ser incômodo, para outras pode ser um símbolo de status ou até de rebeldia.
A ausência do som chega a ser uma preocupação nos veículos elétricos, pois as pessoas não percebem a aproximação do veículo ou o aumento da velocidade, representando assim um risco à segurança.
Através do tato, a avaliação sensorial de produtos não-alimentícios pode revelar informações importantes como: textura, dureza, temperatura, peso, volume e formato. Essas informações sensoriais estão diretamente relacionadas com a disposição do consumidor em comprar o produto e influenciam até mesmo no preço que ele estará disposto a pagar.
Por exemplo, na compra de um celular ou mesmo um eletrodoméstico é comum o consumidor pegar o produto na mão para sentir o peso, pois embora o consumidor normalmente deseje adquirir produtos mais leves, o baixo peso pode ser associado a baixa qualidade do material e um motivo para rejeição do produto.
A aplicação das metodologias para avaliação sensorial de produtos não alimentícios nem sempre pode ser realizada em condições padronizadas. As condições ambientais de teste, como: sol, temperatura, umidade e vento podem variar de uma sessão para outra, a exemplo do que pode ocorrer na avaliação de produtos automobilísticos ou esportivos.
No delineamento dos testes esses parâmetros ambientais podem ser limitados, mas dificilmente podem ser completamente padronizados e portanto as condições ambientais passam a ser mais uma variável a ser considerada na análise dos resultados.
Na avaliação de produtos não alimentícios a usabilidade é um parâmetro muito importante e que também é influenciada pelos sentidos. A variação no contexto (condições ambientais do teste) e as interações multimodais entre os sentidos devem ser avaliadas e interpretadas na análise e discussão dos resultados.
Na área de eletrodomésticos, móveis, artigos esportivos, equipamentos telefônicos, embalagens, entre outros produtos, o desempenho técnico não é suficiente, é preciso avaliar a ergonomia e analisar os fatores que impactam no conforto, segurança e eficácia de um produto no contexto de uso.
Delarue (2021) sugere que os estudos de ergonomia sejam realizados em conjunto com os estudos sensoriais, envolvendo também a exploração tátil.
A ascensão da avaliação sensorial de produtos não alimentícios se reflete também no aumento do número de publicações em revistas científicas.
Em um levantamento feito entre 1986 e 2016 nas revistas científicas “Journal of Sensory Study“ e “Food Quality and Preference” mostraram que o principal segmento não alimentício desenvolvendo estudos sensoriais é o cosmético (48%), seguido pela área têxtil (19%) e transporte (15%) (Delaure, 2021).
Embora não tenha aparecido neste levantamento, o segmento Farmacêutico tem se desenvolvido muito na área sensorial, já que a adesão aos tratamentos prescritos pelos médicos depende muito da aceitação sensorial do medicamento, especialmente para crianças. Por isso nesse segmento foram desenvolvidas diferentes abordagens para caracterizar o mascaramento do sabor.
Outro segmento que está evoluindo muito na aplicação das técnicas sensoriais é o de eletrodomésticos porque também está muito associado ao resultado final, o qual é essencialmente a eficácia percebida na qualidade final da roupa lavada ou na preservação dos alimentos refrigerados ou na eficácia do cozimento dos alimentos (exemplo: suculência da carne).
Apesar da avaliação sensorial de produtos não alimentícios utilizar basicamente as mesmas metodologias sensoriais aplicadas aos alimentos e bebidas, cada segmento exige um planejamento experimental adequado à necessidade de cada projeto.
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Por Dra. Elaine Berges
REFERÊNCIAS:
Delarue, J. et al. 2021. Nonfood Sensory Practices. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/book/9780128219393/nonfood-sensory-practices