Realizar uma análise sensorial em ambiente virtual parecia coisa do futuro, mas com a  tecnologia cada dia mais presente em nossas vidas esse futuro está mais próximo do que a maioria de nós imagina.

A simulação realista e imersiva de um ambiente tridimensional com o uso de tecnologia cria artificialmente o contexto para o entendimento das experiências sensoriais e abre um leque de possibilidades para aplicação em análise sensorial e estudos com consumidores.

A revista Food Research International (2019) dedicou uma edição inteira para falar desse tema e publicou 7 artigos originais para dar um panorama de como a realidade virtual (RV) está sendo utilizada na área de Ciência Sensorial e do Consumidor.

Os estudos abrangem desde a avaliação de contextos imersivos para estudar a percepção dos consumidores sobre produtos alimentares (bebidas) e não alimentares (skin care) até à aplicação da realidade virtual na avaliação do comportamento de compra dos consumidores em lojas simuladas (Ares, 2019). 

Uma abordagem qualitativa também foi usada para avaliar o potencial da realidade virtual para idosos com dificuldades de locomoção e que vivem sozinhos na escolha do ambiente virtual para fazer as refeições (Korsgaard; Bjøner e Nilsson, 2018).

Mas nossa atenção especial foi para a pesquisa realizada por Sinesio e colaboradores (2019) que projetou uma sala multisensorial imersiva para reproduzir as condições de consumo próximas à vida real, com grandes projeções de telas nas paredes, estímulos sonoros e olfativos e móveis condizentes com o cenário do vídeo que era uma sala de jantar de uma fazenda de férias com vista para um pátio e o campo. Como controle foi utilizado o ambiente de laboratório sensorial tradicional.

Nesse estudo o sabor e o frescor percebido de dois produtos vegetais (salada de tomate e rúcula selvagem) em diferentes tempos de armazenamento foram avaliados por um grupo de voluntários, consumidores regulares dos produtos.

Como era de se esperar a nota para o sabor foi maior quando as avaliações foram realizadas no ambiente imersivo em comparação ao ambiente de laboratório. No entanto, a eficácia da discriminação para o frescor e sabor de vegetais armazenados e não armazenados foi reduzida no ambiente imersivo em relação ao laboratório.

Um outro estudo que me deixou muito intrigada foi a incorporação de tecnologias digitais de aumento de sabor em experiências tradicionais de comer e beber. 

Essa tecnologia utiliza pulsos elétricos controlados na ponta da língua durante o consumo para aumentar os sabores por meio da estimulação elétrica. Confesso que eu não iria querer ser voluntária nessa análise sensorial.

Na pesquisa realizada por Ranansingue e colaboradores (2019) foram utilizados dois utensílios, um par de pauzinhos e uma tigela de sopa, para aplicar os pulsos elétricos enquanto os voluntários consumiram purê de batata e sopa de missô.

Esse estudo demonstrou que aumentos significativos na percepção de salinidade e acidez podem ser alcançados ao consumir purê de batata sem sal e que classificações significativamente mais altas de acidez podem ser alcançadas ao consumir sopa de missô diluída.

Outro fator que pode afetar as respostas dos consumidores na análise sensorial são as emoções positivas ou negativas suscitadas pelo produto e pelo contexto no qual ele é consumido. Alguns autores até defendem que as respostas não são impulsionadas pelas próprias amostras, mas pelo contexto em torno das amostras e em torno dos avaliadores.

 

Desta forma a performance dos produtos podem ser otimizadas de acordo com seu perfil de emoções assim como é feito para o perfil sensorial. O conhecimento das respostas emocionais é uma informação valiosa do ponto de vista do marketing e pode ser usada na produção de campanhas publicitárias e embalagens. 

Para entender as respostas emocionais relatadas pelos consumidores Worch e colaboradores (2020) avaliaram as mesmas amostras de cerveja  em 5 condições de teste diferentes, incluindo um Central Location Test (CLT), um Pub real e um recriado e duas situações de realidade virtual (óculos RV projetando um vídeo em 360 ° e RV combinando modelagem 3D e fotos 360 °) simulando uma experiência de Pub

Para cada condição foi avaliada a aceitação geral com escala hedônica de 9 pontos, intenção de recompra, CATA com 11 termos emocionais e nível de engajamento durante o teste. Os autores concluíram que as respostas emocionais fornecidas pelos consumidores estavam mais relacionadas ao contexto e / ou tecnologia do que as próprias cervejas. 

No futuro as tecnologias imersivas que simulam ambientes da vida real podem ser ferramentas eficazes na análise sensorial com consumidores e uma alternativa válida para testes de consumidor em situações da vida real. 

Pesquisas adicionais, destinadas a explorar outros produtos e outros cenários imersivos de consumo ou compra, irão esclarecer ainda mais se essas descobertas são dependentes do produto ou determinadas pela situação imersiva utilizada.

E você? O que pensa do assunto? Qual a sua experiência com essas tecnologias imersivas? Escreva aqui nos comentários e marque um amigo que se interesse pelo assunto.

Por Dra. Elaine Berges da Silva

REFERÊNCIA:

Special issue on “Virtual reality and food: Applications in sensory and consumer science Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.foodres.2019.02.001