Determinar o número mínimo de avaliadores é sempre um desafio.

Qual o número mínimo de avaliadores para análise sensorial? Essa talvez seja uma das perguntas que as pessoas mais fazem para os profissionais da área de ciência sensorial e a resposta é sempre….Depende. 

Depende do tipo de teste que será aplicado, depende do número de amostras e da complexidade dos atributos que serão avaliados, depende também do perfil dos avaliadores e do orçamento disponível para a pesquisa sensorial, entre tantos outros fatores.

A recomendação mais usual é de no mínimo 60 avaliadores para um público-alvo homogêneo e para os casos de segmentação nas preferências das amostras recomenda-se um mínimo de 100 a 120 avaliadores (ISO 11136, 2014).

O que todos querem saber é qual deve ser o número mágico que otimize todas essas variáveis e ao mesmo tempo garanta resultados  confiáveis, robustos e reprodutíveis, dentro dos critérios da estatística experimental.

Foi esse desafio que motivou a Nutricionista Daiana Novello a desenvolver como trabalho de conclusão do curso de Pós-graduação em Ciências Sensoriais e do Consumidor da  About Solution a pesquisa “Number of children needed to evaluate products made in cooking workshops” que resultou em um artigo publicado este mês na revista Food Quality and Preference.

Esse trabalho foi orientado pelo saudoso professor Dr. Adilson dos Anjos que faleceu recentemente e deixou um legado de trabalhos de excelência na área de  sensometria  e contribuiu com a formação de muitos profissionais na área de sensorial. 

A definição do  número de avaliadores na análise sensorial com crianças, assim como em outros testes sensoriais impacta diretamente nos custos do projeto, por esse motivo conhecer exatamente qual o número mínimo necessário para se obter dados confiáveis é de extrema relevância para a viabilidade da pesquisa sensorial.

Existem vários métodos estatísticos que podem ser usados ​​para  determinar qual o número mínimo de avaliadores. Nesse trabalho desenvolvido por Daiana Novello et al. (2021) foi utilizado o método bootstrap para  determinar qual o número mínimo de avaliadores na análise sensorial com crianças.

O método bootstrap consiste em obter um novo conjunto de dados por meio da reamostragem do conjunto original (Efron & Tibshirani, 1993). Um dos propósitos deste método é a estimativa de erros padrão e a construção de intervalos de confiança para parâmetros desconhecidos (Efron & Tibshirani, 1986; Qumsiyeh, 2013). 

Se determinar o número mínimo de avaliadores entre adultos já é uma tarefa complexa, ela se torna ainda mais desafiadora quando se trabalha com crianças, pois esse público tem pouca ou nenhuma experiência na avaliação de produtos, o que exige mais explicações detalhadas sobre os procedimentos de análise. 

Outros fatores como gênero e estado nutricional podem influenciar a aceitabilidade dos produtos, interferindo diretamente no número de avaliadores. Alguns estudos mostram que  as meninas gostam mais de frutas e vegetais do que os meninos. E que os meninos gostam de alimentos gordurosos e açucarados; produtos de carne e ovos mais do que as meninas (Novello, 2021).

Estudos envolvendo crianças devem ser adequados para diferentes estágios de desenvolvimento, uma vez que as habilidades motoras, cognitivas e de linguagem variam significativamente de acordo com a idade. 

A análise sensorial com crianças foi realizada por Daiana Novello et al. (2021) partindo de uma população de 9600 estudantes de uma escola pública na cidade de Guarapuava/PR com idade entre 7 e 10 anos. Foi realizada uma amostragem com 315 crianças, seguindo os protocolos estabelecidos pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos.

 

A análise sensorial com crianças foi realizada na forma de oficinas de culinária, nas quais cinco produtos foram submetidos à avaliação sensorial: biscoito de berinjela, muffin de acelga, pão de agrião, panqueca de rabanete e esfiha de chuchu. A escolha dessas preparações foi realizada com base em uma pesquisa prévia dos alimentos saudáveis menos aceitos pelas crianças.

Três condições de avaliação foram consideradas para investigar o tamanho da amostra: geral (todas as crianças), por sexo (masculino e feminino) e estado nutricional (baixo peso, eutrofia e excesso de peso). 

Na avaliação geral, o tamanho amostral mínimo necessário foi de 39 crianças, enquanto na avaliação por gênero e estado nutricional, o mínimo foi de 41. 

Em geral, o estudo mostrou que um pequeno número de crianças é adequado para avaliar os produtos fabricados em oficinas de culinária contendo ingredientes menos aceitos por este público. Também mostrou que gênero e o estado nutricional tem pouca influência no tamanho da amostra.

No entanto, é importante mencionar que o contexto no qual os produtos são consumidos devem ser levados em consideração, pois isso pode afetar diretamente o número necessário de avaliadores (Novello, 2021). O envolvimento das crianças na preparação dos alimentos saudáveis e o contexto de um ambiente participativo e descontraído promovido pelas oficinas de culinária mostrou ser uma estratégia eficaz para garantir a boa aceitabilidade dos produtos, uma vez que os índices de aceitabilidade das preparações foram todos acima de 90%.

O bootstrap é uma metodologia de aplicação rápida e fácil para determinar o número de avaliadores necessários em testes sensoriais afetivos usando a escala hedônica. Também é um método flexível, pois permite definir o tamanho do erro admissível da população e estimativa mínima tamanhos de amostra para cada variável e condição de avaliação.

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Por Dra. Elaine Berges da Silva

REFERÊNCIA:

NOVELLO, Daiane; ANJOS, Adilson; et al. Number of children needed to evaluate products made in cooking workshops. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.foodqual.2021.104301

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